Conflitos entre pais e filhos no processo de desenvolvimento: Como lidar com essa questão?
- Fernanda Caviquioli
- 29 de jun. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de jul. de 2022
Entenda as origens dos conflitos e os fatores importantes a considerar para lidar com o conflito na relação entre as gerações.

A vinculação de pais e filhos me remete a duas faces de uma relação, de um lado as expectativas, os planos de continuidade do projeto familiar herdado geracionalmente que os pais consideram ser o melhor para os seus filhos e o amor que desejam transmitir; do outro lado os filhos com a necessidade do pertencimento, de serem amados, aceitos e autorizados pelos seus pais possibilitando um espaço para o crescimento e desenvolvimento.
Nessa relação entre pais e filhos acontecem muitos encontros, disfarçados de desencontros, normalmente representados pelo conflito. A forma de se relacionar dos filhos é aprendida na relação com os pais, em um processo que tem como referência o lugar que esse filho ocupa na sua família, em qual momento da vida dos seus pais ele nasceu, já com a demanda de corresponder a muitas expectativas familiares.
É importante analisar os conflitos na relação de pais e filhos, considerando o momento do ciclo de vida familiar que surgem os embates além de ficar atento ao fato de que ambos seguem juntos no processo de desenvolvimento. Vou separar o ciclo de vida da família da seguinte forma: a infância, a adolescência, a saída do filho de casa se lançando para vida adulta.
Conflito de pais e filhos na infância
O papel dos pais nessa fase é de proteger, garantir a segurança, alimentar, ser afetuoso com os filhos, acolher, cuidar, socializar, alinhar entre eles as crenças, os valores, o modelo relacional que consideram importante transmitir na educação dos filhos.
Nessa fase tudo é novidade para criança, ela começa a se despertar para vida, a cada alimento introduzido, a cada conquista, como: o engatinhar, falar, andar, aprender a ler e escrever, etc., além de começarem a ser marcadas, na troca relacional com os pais, de acordo com a bagagem emocional que esses pais trouxeram das suas famílias de origem (família que nasceram).
A responsabilidade dos conflitos que surgem nessa fase é dos pais, os filhos começam a experimentar até onde eles podem ir na relação, aprendendo qual é o limite dos mesmos. É responsabilidade dos pais transmitir de forma clara, assertiva e principalmente alinhar entre eles as regras, os limites e o que é importante para essa família nuclear que é inaugurada com a chegada do filho.
O conflito na infância normalmente é representado por “birras” ou algum sintoma de ordem fisiológica ou emocional, costuma trazer muitas tensões e dificuldades para o contexto familiar. O mais adequado nesse caso é tirar o foco da criança e não a responsabilizar de ser a causadora do problema, o sintoma é uma questão familiar.
A solução está no processo de compreender o que está acontecendo nessa família que a criança está precisando se expressar dessa forma, normalmente a falta de alinhamento entre os pais na educação dos filhos enfraquece ou anulam as regras um do outro e a mensagem que os pais querem transmitir não fica clara.

Conflitos na relação pais e filhos na adolescência
Nessa fase os conflitos ficam mais evidentes na dificuldade de comunicação entre pais e filhos, é o momento em que os adolescentes precisam entender o processo de transformação do corpo, dos hormônios, reconhecer os sentimentos que os invadem, a troca relacional no âmbito social e escolhas devem partir deles e não mais dos pais como na infância.
Os pais precisam ampliar o espaço, diminuir as exigências e expectativas familiares para acolher a independência dos filhos. É importante promover diálogos e reflexões para que possam construir opiniões e discernimentos, podendo assim, aumentar a probabilidade dos filhos de realizarem escolhas mais conscientes, devem supervisionar as escolhas e conceitos e não impor.
Conflitos na relação pais e filhos no lançamento dos filhos para vida adulta
Os conflitos nessa fase surgem quando os pais não conseguem ser flexíveis, aceitar e se adaptar às mudanças que ocorreram no processo de desenvolvimento, quando as relações familiares são rígidas, fechadas para aceitar novos relacionamentos dos filhos ou respeitar opiniões divergentes, não proporcionando espaço para o crescimento. Os filhos normalmente ficam reativos, criam distanciamento ou rompem relações com os pais.
Os pais precisam confiar e aceitar as escolhas dos relacionamentos dos filhos, acolherem parentes por afinidade e netos. Modificar o relacionamento pais e filhos para permitir que os filhos se movimentem dentro e fora do sistema familiar.
Estabelecer uma relação de respeito entre pais e filhos, que acontece de adulto para adulto, entre filhos crescidos e seus pais. Os pais devem ficar no lugar de consultores, emitirem opiniões quando lhes for solicitado e não aleatoriamente.

Qual a função do conflito na relação pais e filhos no processo de desevolvimento?
De forma geral, a função das “birras” na infância ou discordância de opiniões na adolescência ou relações rompidas na vida adulta ou sintomas dos filhos, é uma forma de denunciar que algo precisa ser organizado nesse sistema familiar, que precisam criar novos padrões relacionais.
Essa solicitação por organização no sistema, pode estar relacionada à necessidade dos pais alinharem questões referentes à educação dos filhos, ou problemas no subsistema da conjugalidade devido à falta de conexão do casal, com a chegada dos filhos normalmente cria-se um distanciamento no processo de se adaptar às demandas e exigências que surgem e mudam em cada fase.
Pode-se considerar também, o fato de os pais não terem conseguido realinhar os relacionamentos com a família extensiva e amigos, que pudesse incluir o cônjuge.
Outra possibilidade é um dos pais estar com algum problema emocional, em uma das áreas de suas vidas, que remete à história geracional e não estarem conseguindo encontrar solução.
Fatores importantes para lidar com o conflito na relação pais e filhos?
Contextualizar o conflito na relação pais e filhos, o conflito ou sintoma é uma forma de anunciar questões que começaram muito antes desse conflito existir.
Ampliar buscando na história geracional dos pais a função do conflito, qual padrão perturbador está tentando dar continuidade?
Refletir sobre a conjugalidade, se estão investindo energia para nutrir a relação do casal de forma satisfatória para ambos.
Compreender se os pais conseguiram realinhar os relacionamentos com a família ampliada.
Debater e alinhar sobre aspectos que consideram importante para a educação dos filhos.
Processar as exigências e demandas de cada fase, para se adaptarem às mudanças que fazem parte do processo de desenvolvimento.
O conflito não é um vilão e sim um alerta a respeito das questões familiares que precisam de organização na interação relacional, pode ser uma oportunidade para reconhecer os padrões relacionais que não funcionam mais no sistema.
O conflito pode ser, também, uma possibilidade para aprender, ampliar, flexibilizar e tornar mais leve as relações, para que todos os membros tenham espaço para crescerem, se desenvolverem, encontrar a sua essência e realizar seu propósito, conseguindo ser o que desejam.